Por: Edith Cassal-
compartilhado por Annete Krebs.
Este texto é um estímulo para levantarmos com
entusiasmo a nossa árvore genealógica)
A herança emocional é
tão decisiva quanto intransigente e impositora. Estamos enganados quando
pensamos que a nossa história começou quando emitimos o nosso primeiro choro.
Pensar dessa forma é um erro, porque assim como somos o fruto da união do óvulo
e do esperma, também somos um produto dos desejos, fantasias, medos e toda uma
constelação de emoções e percepções que se misturaram para dar origem a uma
nova vida.
Atualmente falamos
muito sobre o conceito de “história familiar”. Quando uma pessoa nasce, ela
começa a escrever uma história com suas ações. Se observarmos as histórias de
cada membro de uma família, encontraremos semelhanças essenciais e objetivos
comuns. Parece que cada indivíduo é um capítulo de uma história maior, que está
sendo escrita ao longo de diferentes gerações.
Esta situação foi muito
bem retratada no livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, que
mostra como o mesmo medo é repetido através de diferentes gerações até que se
torna realidade e termina com toda uma linhagem. O que herdamos das gerações
anteriores contem também os pesadelos, os traumas e as experiências mal
resolvidas.
A
herança de nossos antepassados que atravessa gerações
Esse processo de
transmissão entre as gerações é algo inconsciente. Normalmente são situações
ocultas ou confusas que causam vergonha ou medo. Os descendentes de alguém que
sofreu um trauma não tratado suportam o peso dessa falta de resolução. Eles
sentem ou pressentem que existe “algo estranho” que gravita ao seu redor como
um peso, mas que não conseguem definir o que é.
Por exemplo, uma avó
que foi abusada sexualmente transmite os efeitos do seu trauma, mas não o seu
conteúdo. Talvez até mesmo seus filhos, netos e bisnetos sintam uma certa
intolerância em relação à sexualidade, ou uma desconfiança visceral das pessoas
do sexo oposto, ou uma sensação de desesperança que não conseguem explicar.
Essa herança emocional
também pode se manifestar como uma doença. O psicanalista francês Françoise
Dolto, disse, “o que é calado na primeira geração, a segunda carrega no corpo”.
Assim como existe um
“inconsciente coletivo “, também existe um “inconsciente familiar”.
Nesse inconsciente
estão guardadas todas as experiências silenciadas, que estão escondidas porque
são um tabu: suicídios, abortos, doenças mentais, homicídios, perdas, abusos,
etc. O trauma tende a se repetir na próxima geração, até encontrar uma maneira
de tornar-se consciente e ser resolvido.
Esses desconfortos
físicos ou emocionais que parecem não ter explicação podem ser “uma chamada”
para que tomemos consciência desses segredos silenciados ou daquelas verdades
escondidas, que provavelmente não estão na nossa própria vida, mas na vida de
algum dos nossos antepassados.
O
caminho para a compreensão da herança emocional
É natural que diante de
experiências traumáticas as pessoas reajam tentando esquecer. Talvez a
lembrança seja muito dolorosa e elas acreditam que não serão capazes de
suportá-la e transcendê-la. Ou talvez a situação comprometa a sua dignidade,
como no caso de abuso sexual, em que apesar de ser uma vítima, a pessoa se
sente constrangida e envergonhada. Ou simplesmente querem evitar o julgamento
dos outros. Por isso, o fato é enterrado e a melhor solução é não falar sobre
assunto.
Este tipo de
esquecimento é muito superficial. Na verdade, o tema não está esquecido, a
lembrança é reprimida. Tudo que reprimimos se manifesta de uma outra forma. É
mais seguro quando volta através da repetição.
Isto significa que uma
família que tenha vivenciado o suicídio de um dos seus membros provavelmente
vai experimentá-lo novamente com outra pessoa de uma nova geração. Se a
situação não foi abordada e resolvida, ficará flutuando como um fantasma que
voltará a se manifestar mais cedo ou mais tarde. O mesmo se aplica a todos os
tipos de trauma.
Cada um de nós tem
muito a aprender com os seus antepassados. A herança que recebemos é muito mais
ampla do que supomos nela poderemos encontrar a causa de muitos de nossos
sofrimentos e desgraças.
Qual a tua herança
positiva e negativa de teus antepassados? O que fazer com o herdado devemos
perpetuar, repetir, salvar, negar, encobrir as feridas destes eventos
transformados em segredos, ou entender, aprender e transcender?
Todas as informações
que pudermos coletar sobre os nossos antepassados serão o melhor legado que
podemos ter e deixar para nossos descendentes. Saber de onde viemos, quem são
essas pessoas que não conhecemos, mas que estão na raiz de quem somos, é um
caminho fascinante que só nos trará benefícios. Isto nos ajudará a dar um passo
importante para chegar a uma compreensão mais profunda de qual é o nosso
verdadeiro papel no mundo.
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